Meu neto tem um baú em seu quarto, onde ficam vários brinquedos dele. Não raro, nas minhas visitas a ele, clandestinas ou não, nós ficamos entretidos com o conteúdo desse baú. Às vezes é ele que me leva pra lá, outras eu o chamo. A cena é mais ou menos sempre a mesma, aquela de avô e neto. O avô sentado no chão, o neto pegando um monte de brinquedos dentro do baú e colocando no chão. Vez ou outra ele encontra alguma peça que lhe chama mais a atenção e nesta ele se detém alguns segundos a mais. De vez em quando ele pega um quebra-cabeças ou um brinquedo de montar, senta ao meu lado e fica ali, enconstado em mim, alguns minutos. Minutos preciosos, que para o coração de um avô valem uma eternidade.
Dia desses passamos, eu e minha esposa, nove dias viajando e não consegui ter contato com o meu neto. Quando voltei, meu filho nos convidou para almoçar com eles. Lógico que fomos e iríamos tantas quantas vezes ele nos convidar nas mesmas circunstâncias. Nesse dia, nem me lembro bem quem provocou a ida até o quarto do meu neto, mas, de repente estava lá eu sentado ao lado do baú. O que aconteceu, então, foi uma cena que, vai acabar a minha vida e não esquecerei. De repente meu neto, que estava sentado, tentando tocar um teclado, olhou pra mim ali sentado, olhou para a porta, se levantou foi lá fechou a porta, voltou pegou um livrinho amarelo que ele têm, sentou no meu colo, colocou a cabeça no meu peito e ficou ali por, pelo menos, longos cinco minutos.
A leitura que fiz desta cena me levou a experimentar uma sensação muito gostosa. Daquele momento me veio a sensação de ouvir meu neto estava dizendo que por uns minutos eu era só dele e ele era só meu, provando que a saudade que senti dele, nesses nove dias que ficamos fora, era recíproca e isso me fez muito bem.
Viver é isso.