quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A GRIPE NÃO PASSA E A SAUDADE AUMENTA

Hoje, quinta-feira, dia semanal da santa visita aos meus netos e eu aqui gripado sem poder vê-los. Meu coração fica pequenininho (ou pipiquinho, como diria o Vítão), quando lembro disso. Mas fazer o quê.

A saudade que estou sentindo daquele gaiatinho é qualquer coisa de assombrosa. Nunca pensei que um pedacinho de gente daquele pudesse causar esse reboliço com a gente.

Aliás, esta semana está de abstinência total de netos. Com a gripe não houve a visita regulamentar das segundas-feiras aos dois netos. Na terça, dia de pintar com a Lara, ela se rebelou e desistiu de pintar. O último contato visual com neto foi no domingo de manhã, que fui na casa do Fábio, mas mantive distância do Lucas e certa distância do Vítor, pois já estava com a gripe. Na terça-feira, consegui falar com o Vítor ao telefone. Foram esses os últimos contatos com meus netos.

Não sei se a saudade que sinto pelo Vítor é recíproca, parece que é. Ainda bem. Falo do Vítor porque o Lucas, coitado, sinto um amor tão grande por ele, mas ainda não tive tempo para curti-lo. São tão poucas as oportunidades e quase sempre ele está dormindo ou o Vitão está por perto e não pode forçar a barra.

Enquanto isso, continuo aqui esperando que a gripe passe e que o Vitão não pense que sou eu o culpado por tão poucas visitas a ele.

sábado, 24 de setembro de 2011

DIZER SIM OU NÃO É QUESTÃO DE TEMPO

Embora não tenho em meu horizonte tornar-me um avô permissivo, por motivos que já comentei aqui, a cada dia que passa entendo mais e mais os avôs que agem desta forma.
Tenho pensado muito sobre isso e chegado à conclusão que dizer sim ou não para os netos está diretamente relacionado à quantidade de tempo que o avô passa junto com ele. Quanto mais tempo se passa junto com o neto, mais fácil de dizer “não” nas situações em que exige um “não”.

A lógica é mais ou menos simples. Como é que vou ficar tão pouco tempo com meu neto ou minha neta e nesse pouco tempo ficar falando “não” a todo instante. Imagino que seja essa a lógica do avô permissivo.
Vamos ilustrar isso com um caso concreto. Meu neto Vítor viveu até hoje exatas 22344 horas. Se contabilizar a quantidade de horas que ele ficou conosco, sob nossa responsabilidade, com a gente determinando quando ele iria se preparar para dormir, dormir e acordar, deve dar assim umas 26 horas. Considerando as horas que ficamos sozinhos com ele, e ele estando acordado, deve ter sido outras 30 horas, mais ou menos. O resto do tempo que ficamos com ele foi na companhia dos pais, e nessas horas cabe aos pais dizer os “nãos” nas necessidades. Um sobre o outro, então tem-se que ficamos com o Vítor apenas 0,22% do tempo de vida dele. Imagine, então, um avô com tendência permissiva, se não iria ficar muito tentado a dizer “sim” a todas as coisas.
Entretanto, não podemos tirar de mente, o que já escrevi em outro post que trago um trecho aqui.
A única coisa que não nos cabe fazer é agir de forma diferente daquela permitida pelos pais do seu neto. Isso, com certeza, só traria prejuízos aos netos e não garante que torne os avós felizes. Então, como último conselho de um avô que delira de vez em quando, é: apesar de, boa parte das vezes, você não concordar com o tipo de relação que seus filhos (filhos, filhas, noras e genros) querem impor a você e seus netos, nunca faça com seus netos alguma coisa que seus filhos não concordam. O resultado disso é uma relação harmônica entre você e seus filhos, que, em última análise se transforma em benefício aos netos que, afinal de contas, é o que todos queremos.
Essa é a grande verdade, pois não podemos tirar o foco de que queremos criar netos felizes.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

QUANTO VALE UMA ETERNIDADE

Há algum tempo, Gilberto Gil escreveu a letra de uma música chamada "Parabolicamará", onde faz um contra-ponto entre as distâncias existentes no passado e o quanto essas distâncias diminuiram com a chegada da alta tecnologia. A certa altura ele escreve que ir de um lugar a outro “de jangada leva uma eternidade”.

Sempre ouvi essa expressão quando pequeno e nunca parei para questionar sobre essa grandeza de medida. Quanto é que vale uma eternidade?

Nessas duas últimas semanas tive a noção exata do tamanho de uma eternidade. Cheguei à conclusão que uma eternidade é exatamente o tempo transcorrido entre segunda-feira à noite e quinta-feira à tarde. Essa é a medida exata de uma eternidade.

domingo, 18 de setembro de 2011

SEMANA INTENSA

Esta foi uma daquelas semanas inesquecíveis que a gente tem de vez em quando. Daquelas que ficam com uma marca indelével na gente pro resto da vida.

Logo na segunda-feira fomos escalados para ir à casa dos nossos netos, à noite, e só saímos de lá depois que o neto mais velho dormiu. Sempre que vamos a casa deles é um deleite. Como é bom ficar com os meus netos. O Lucas ainda está novinho e parece que pra ele não faz diferença a nossa presença. Então, somente a gente sente o quanto é bom estar com ele. Mas com o Vítor as coisas são diferentes. É nítido em suas reações, que ele também gosta muito da nossa presença. Noutro dia cheguei na casa dele e ele estava sentado em uma mesinha que usa para comer de vez em quando. Sentei-me ao seu lado, no chão, só pra ficar próximo a ele. Ficamos ali, eu sentado no vão entre a cadeira dele e o sofá e ele sentado numa cadeirinha, comendo alguma coisa que estava sobre a mesinha, assistindo TV. Quando percebo ele estava virado pra trás com o braço em torno do meu pescoço, num gesto puro e simples de demonstração que também sentiu saudade de mim. Isso só confirma o que eu digo: Deus sempre me deu mais do que mereço.

Mas a semana continuou e na terça-feira embarcamos para São Paulo. O objetivo era participar na quarta-feira de um encontro de companheiros de trabalho, de uma empresa (UNION CARBIDE) que trabalhei até 1978. Chegamos lá na terça-feira quase meia noite, mas uma grande amiga nossa insistiu em ir nos visitar no hotel e apareceu. Ficamos, então numa profusão de recordações boas, até as duas da manhã. Relembramos histórias nossas e de nossos filhos e ao final nos despedimos com a certeza que nossa amizade é daquelas que resistem ao tempo. Na quarta-feira, acordamos um pouco cansados, mas mesmo assim fomos ao centro da cidade comprar algumas coisas, voltamos e descansamos para o encontro da noite.

O encontro da noite foi, para resumir numa única palavra, o nirvana. Pessoas que não víamos há mais de trinta anos, apareceram assim como se a gente tivesse acabado de dizer um até logo na noite de ontem. Revi amigos que nem nos melhores sonhos da minha vida, imaginei pudesse reencontrá-los. Saí desse encontro com a certeza de que Deus é muito generoso comigo. Senão, como explicar o fato de, estar ali diante de pessoas que pelos idos de 1977/1978 foram parceiras de verdade e, de repente, saem de nossas vidas? Só pode ser a generosidade de Deus.

Mas a semana ainda não tinha acabado. Como trouxemos uma cama elástica de presente para o Vítor, passamos na casa dele na quinta-feira, quando voltamos de São Paulo, para ver sua reação com o presente. Depois de montada a cama elástica ele brincou até pedir para sair, todo suado e cansado.

Na sexta-feira, fizemos um programa mais avô ainda. A Lara, nossa neta, fez aniversário no sábado (17) e nós prometemos como presente de aniversário, pegá-la na escola, junto com uma amiguinha dela e levar para uma sorveteria daqui que tem um parquinho completo. Levamos também o Vítor e uma tia dele levou mais três primas. Foram duas horas tão intensas que a ninguém era dado o direito de descansar um pouco. Estávamos em três adultos e todos tivemos que ficar duas horas ligados nas seis crianças que estavam ali se esbaldando. Saímos exaustos, passamos na sorveteria e deixamos cada uma das crianças tomar quanto sorvete quisesse e fomos embora extenuado e felizes de ter vivido uma experiência ímpar.

Ontem foi o aniversário da Lara. De novo estava lá o Vítor, infelizmente o Lucas não pode ir. Bolo de castelo, feito pela vó Cleide a pedido da Lara, pula-pula e tudo o mais que uma festa de criança tem. Ao final todos fomos embora com a certeza que esta semana vai ficar para a história de nossas vidas.

Deus é bondoso comigo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

SÍNDROME DA FAMÍLIA PEQUENA, OU: COMO SOFREM MINHAS NORAS

Sempre achei que a opção que fizemos por ter poucos filhos tivesse sido a melhor para sempre. Hoje já começo a questionar. Já chego a pensar que essa decisão foi a melhor para aquele momento da vida. Qualquer casal que pense minimamente no futuro de seus rebentos, pensava eu à época, não optará por mais de dois filhos. Com dois filhos pode-se apertando aqui e ali dar a eles todo o suporte para que se formassem em todos os sentidos.

Alguns poderão afirmar que, se é assim, porque não apenas um? Seria mais fácil ainda, se o problema for garantir uma formação exitosa. Para mim, a resposta a essa afirmação é um sonoro não. Entretanto, a explicação não é simples. Envolve tantos fatores que é complexo explicar demais porque se deve ter dois filhos e não um.

Mas, retornando, nesta fase da minha vida questiono imensamente a opção que fiz lá atrás, de ter apenas dois filhos. Nada assim, que possa se mostrar algum problema intransponível. Na verdade, a desvantagem grande daquela decisão, quem está provando são as meninas que decidiram casar com meus filhos.

Hoje me pego pensando como as minhas noras teriam mais sossego se não fossem apenas duas. Como são poucas, tem que suportar uma carga maior de sogro carente. Enquanto os netos não nascem, até que não deve ser muito difícil a missão. Mas a coisa pega quando os netos chegam. Aí a carência do sogro aflora e haja paciência das noras para agüentar um velho babão, achando que é o melhor avô do mundo e, quase sempre, perturbando a nora de forma tão intensamente sufocante que, imagino, só com muita paciência é possível suportar.

Deus, dê paciência às minhas noras, para que elas não percam a paciência comigo.

sábado, 10 de setembro de 2011

AS PIPOCAS DA VIDA

Sempre que vejo um trio elétrico e observo a pipoca sou arremessado a algumas lembranças da minha infância. Na pipoca dos trios elétricos, normalmente ficam as pessoas que não podem pagar pelo abadá e ficam ali meio que participando da festa, vendo tudo o que acontece, mas não aproveita como as outras pessoas.

Na minha infância, me lembro grandes quermesses que as igrejas faziam, onde a atração principal eram os leilões de frango assado. Quando alguém arrematava a mesa toda saboreava aquele galináceo recheado com uma farofa. A gente, sem dinheiro para comer ou beber alguma coisa, ficava ali na pipoca observando tudo, meio que participando da festa, mas sem aproveitar nada.

O “must” acontecia no final da quermesse e aquilo vinha como se fosse uma recompensa por esperar tanto. Quanta farofa de frango se conseguia sobre as mesas vazias. Com um pouco de sorte se conseguia também alguma garrafa de refrigerante com um pouco de líquido dentro. Aquilo era o máximo. Nessas ocasiões eu me sentia um privilegiado. Quanto privilégio poder, de vez em quando, ingerir alguma coisa diferente de arroz e água. Se não conseguisse aquelas sobras, tudo bem também. Não tinha problema. Aquela concessão era um “plus” que aparecia de vez em quando. O normal da vida não era daquele jeito. O normal era viver sem aquelas sobras.

Pois é, há um tempo na nossa vida que nos contentando com pouco. Até com migalhas, às vezes. Depois o tempo passa e a gente se esquece que pouca coisa já bastou pra gente ser feliz.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

NOSTALGIA

Ontem, um feriado perdido no meio da semana, fiquei a manhã toda morgando e aproveitei para rever algumas recordações do passado: fotos, músicas e lembranças que estavam lá no escondidinho do meu pensamento.

O início de tudo foi quando estava revisando um livro de cantos e passei sobre a música “Pai”, do Fábio Junior. Enquanto ajeitava esta música na página do livro de cantos, coloquei-a para tocar no WMP. Essa música me levou a lembrar do meu pai, revi algumas fotografias antigas e me lembrei que tinha uma gravação dele cantando. Meu pai, apesar de analfabeto, cantava em um coral da igreja que ele freqüentava e um dia eles resolveram gravar três músicas e uma delas tem um solo que é feito pelo meu pai que era tenor. Há algum tempo eu peguei a fita e pedi para converter e agora as tenho em mp3. Ontem, então peguei esta versão e ouvi algumas vezes.

Como é bom ouvir uma pessoa tão cara pra gente. Já que estava no baú da saudade repassei vista em algumas fotos antigas, que também tenho no computador, já que escaneei todas as fotos que tinha em papel. Foi uma overdose de recordações, mas foi também um pouco dolorido.

Acho que ando com a sensibilidade à flor da pele e percebi ontem, coisas que não havia percebido nesses anos todos. Percebei, por exemplo, que tenho poucas fotografias do meu pai, mas a percepção que calou fundo foi a de que jamais tirei uma fotografia com ele. Percebi também que não tenho nenhuma fotografia de meus filhos com meu pai. Continuei nessa sessão nostalgia um pouco dolorida e, embora tenha recordações maravilhosas dele e até hoje sorver seus ensinamentos, me dei conta de que ele se foi em 15/09/1987, sem que eu tivesse a chance de saber se eu o magoei alguma vez e ter a chance de corrigir isso.